Mais do que um livro sobre os boias-frias, aqui se revela a força de uma escrita etnográfica que, inspirando-se em fontes acima citadas, também lança mão do cinema montagem, do surrealismo, do drama barroco e da cultura carnavalizante da Idade Média e do Renascimento...

De que riem
os boias-frias?
Diários de antropologia e teatro

coleção:

Antropologia Hoje

autor:

 John C. Dawsey

capa:

Studio DelRey

acabamento:

brochura

páginas:

304

formato:

14 x 21 cm

ISBN brochura:

978-85-7816-128-6

ISBN e-book:

9788578161613

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Os diários de antropologia e teatro que compõem este livro foram feitos por John Dawsey durante os anos de sua vivência e aprendizado com os boias-frias. Acolhido por uma família de migrantes oriundos do norte de Minas Gerais, morou em um dos barracos que se alojam nas encostas de um pequeno abismo na periferia de Piracicaba, cidade do interior paulista. Ali ganhou o nome de João Branco. Com os boias-frias viajou diariamente aos canaviais e com eles trabalhou no corte da cana – a matéria-prima que alimentava as indústrias e os sonhos de uma nação.

 

Em minuciosos registros do dia a dia, o autor nos introduz em histórias tanto de amor e solidariedade como de raiva e violência tecidas em meio a um espantoso cotidiano. Acima de tudo, somos surpreendidos pelo riso, e pelas cenas carnavalizantes que emergem num clima de esgotamento físico e nervoso em canaviais e carrocerias de caminhões. Cobertos de fuligem da cana queimada, com panos cobrindo as suas cabeças e emoldurando os seus rostos castigados pelo sol, boias-frias assustam, com seus risos e gestos, os habitantes das cidades. Transfigurando-se em múltiplas personagens, transformam as tábuas de caminhões em palcos de um teatro cotidiano.

 

Do estudo desse material, surge uma análise capaz de revitalizar o pensamento antropológico, em suas interfaces com o teatro. À luz do pensamento de Walter Benjamin e do teatro épico de Bertolt Brecht, que se projeta sobre a “virada performativa” de antropólogos como Victor Turner e Clifford Geertz, se produz um modo incisivo de fazer etnografia.

 

Mais do que um livro sobre os boias-frias, aqui se revela a força de uma escrita etnográfica que, inspirando-se emfontes acima citadas, também lança mão do cinema montagem, do surrealismo, do drama barroco e da cultura carnavalizante da Idade Média e do Renascimento, para discutir algumas das cenas primordiais da modernidade brasileira.

 

Diante de uma tempestade chamada “progresso”, há livros que precisam ser lidos em um estado de prontidão, como quem busca captar um lampejo. Imagens do passado relampeiam, articulando-se ao presente. Na virada das páginas deste livro nos encontramos com remoinhos de histórias – não apenas das coisas que vieram a ser, mas, também, das que submergiram, ou caíram no esquecimento. São histórias de coisas que ainda não se realizaram. Ao suscitarem inervações corporais, talvez elas possam fazer despertar para algumas das imagens e formas que se alojam nas entranhas dos sonhos da vida social.

 

Sobre o autor

 

John C. Dawsey é professor titular do Departamento de Antropologia da Universidade de São Paulo (USP). É coordenador do Napedra (Núcleo de Antropologia, Performance e Drama) e do Núcleo de Artes Afro-brasileiras da USP e Ph.D em antropologia e mestre em teologia pela Emory University. Autor de vários livros, e de mais de cinquenta artigos acadêmicos, coorganizou a coletânea Antropologia e performance: ensaios Napedra (Terceiro Nome, 2013).

 

Coleção Antropologia Hoje

 

Parceria da Terceiro Nome e do NAU-USP para a divulgação de pesquisas etnográficas na área da antropologia, a Coleção Antropologia Hoje é coordenada por José Guilherme Cantor Magnani (NAU/USP) e conta, em seu Conselho Editorial, com Luiz Henrique de Toledo (UFSCar), Renata Menezes (MN/UFRJ), Ronaldo de Almeida (Unicamp) e Luis Felipe KojimaHirano (coordenador – NAU-USP).